segunda-feira, 25 de abril de 2016


Ouvi a notícia na radio, na Comercial. Não acreditei.
Liguei à única pessoa no mundo a quem tinha de ligar, com quem tinha de partilhar. O meu irmão. Ele não sabia, dei-lhe a notícia que nunca pensei vir a ser eu a dar-lha, mas que pensando nisso fez sentido.
Disse-lhe mas nunca acreditei no que lhe estava a dizer, nem quando fiquei à espera que ele me ligasse de volta a desmentir mas não o fez. Não o fez, aí deveria ter acreditado porque era ele que mo dizia mas…Não acreditei.
Estava com os meus filhos, e voltei a ter a idade deles, voltei à adolescência, por isso ser mãe ao mesmo tempo estava a ser uma tarefa difícil de coordenar, mas tentei explicar o que se estava a passar, com todo o carinho que merecia aquele incompreensível momento.
Acho que consegui, acho que eles conseguiram continuar a ver a mãe e não a eterna miúda que eu sou quando falo de Prince. “Nothing Compares 2 U”.
As notícias corriam na CNN, e eu ouvi-as com a maior atenção mas ainda assim, não acreditei. 
A história da minha infância faz-me com os discos de vinil do meu irmão, e daquela figura estranha nas capas, que me fascinaram, sempre. Aquele som, aquela voz diferente de tudo o que ouvira pelas mãos do meu mano até ali. Tão diferente e tão único, que sempre tentei seguir uma máxima na minha vida, tentar ser única naquilo que sou, nas escolhas que faço, não me deixar levar por pensamentos em massa, por vontades coletivas, sem inovar, sem improvisar, sem questionar. “What is the answer to the question of u? U” 
Tenho certo que quem me conhece, quem partilhou comigo a minha vida, a primeira coisa que poderão dizer sobre o que se lembram de mim será…Prince.
O dia seguinte acordou com outra cor, não era “Purple”, nem “Blue Light”, mas um céu um tanto diferente porque com toda a certeza a melodia lá em cima mudou hoje, para todos os que lá estavam e aguardavam por este momento, longe de acreditarem que seria tão cedo. “Rave in2 the Joy Fantastic”
Ao entrar no carro tirei o cd para colocar o que precisava de ouvir e o que lá estava não precisou de ser mudado “Sign o’ the Times”, claro que sim, como poderia não ser. E ficou, a tocar só para mim. Era eu e ele sózinhos. “Always cry for love never cry for pain…”
E ainda assim Não acreditei. 
Mais tarde uma mensagem do meu irmão no face…. Ele no fundo sabia o que eu precisava de ouvir para acreditar. Sabia que só ele, por entre milhares, poderia fazer-me ver a realidade. E crer. E foi ali naquelas palavras que tudo se tornou verdade. Que desmoronei. Caí em mim.
Acreditei.
 
Agora perpetua-se a música, os momentos de uma vida, a nossa memória.
A ti maninho, sabes que a nossa vida passa pela música dele, e que fará sempre parte do nosso olhar, o olhar dele. A forma como juntos sempre vivemos a sua música, mesmo depois de já cá não estar para criar as melodias perfeitas, as letras incríveis, o som surpreendente, a atitude irreverente, a alma poética e romântica, será sempre um pouco daquilo que hoje somos maninho. Um bocadinho de nós. Só assim faz sentido. “Let’s go crazy” aos berros!
É real maninho. O Prince morreu……...temos o melhor, a sua obra, a sua criatividade, a sua genialidade, o nosso olhar.
 
“The beautiful ones
Always smash the picture
Always every time”