terça-feira, 30 de novembro de 2004

Noite na Escócia

Curioso, como uma melodia nos pode dar a ver uma imagem,
nítida de acordes, sentida de emoções saudosas, quente de um inverno rigoroso;
por entre uma verdade de tristeza e perda, escuridão e saudade profunda.
Longe de casa, mas acima de tudo longe daquele céu que já fazia parte da minha noite.
Primeira noite, olho o céu, e vejo...nada.
Segunda noite, olho o céu...nada.
Terceira, quarta noite...nada.
Parecia que uma única nuvem cobria o manto de estrelas que sem ter força e brilho suficiente para renascer daquele cinza triste, se entregavam sem luta. Manto que ao longo de vários dias...nunca vi.
As estrelas fazem-me falar, e aquele cenário silenciava-me. Queria a minha vista , aquele lençol luminoso que cobre o rio e beija Lisboa com o seu brilho nocturno, fazendo-a acordar numa noite que convida a dançar em cada esquina, em cada beco; despida de preconceitos, sem medos, confiante do seu sorriso.
Lisboa sorri a quem a espreita, adormece quem nela se deita, e devora os amantes com um luar hipnotisante, estremece os mais distraídos, acalma quem não encontra paz. Lisboa bebe-se, sente-se, escreve-se, envaidece os mais desleixados.
E nela queria pousar, ser devorada e nela escondida daquele mundo.
Saudade...

quinta-feira, 25 de novembro de 2004

Um segundo sem palavras

É inexplicável o que um bom momento de representação nos faz sentir, e quando esse momento consegue vir de um meio, que se encontra tão saturado de poucas ideias.
Uma série, uma cena, sem palavras, os olhares, aquele silêncio...
É bom como ainda nos conseguem surpreender, durante aquele breve instante de televisão. Vermos bons actores, tão bons que por instantes esquecemos a pessoa e vemos apenas a personagem. Crianças que representam como adultos. E acreditar. Que naquele momento, naqueles segundos nos contam a verdade. Sem mentiras e sem enganos.
Não apenas conseguir de nós a lágrima, mas arrepiarmo-nos de emoção...!?!
Aguardo próximo episódio.

“A Juíza”
Sic Mulher-Quarta-feira-21:00

sábado, 20 de novembro de 2004

Momentos de leitura

De muitos momentos inesquecíveis da nossa vida, farão parte, aqueles que vivemos segurando um livro nas mãos. Página a página encontrando imagens nunca vividas, ou por vezes reconhecendo-nos nelas. Existem escritores assim, capazes de nos levar a debruçar em nós próprios, deixando-nos livres no que mais tememos, o pensamento.
E assim, fica aqui um desses meus momentos, que farão parte de mim, sempre.

-"Gostaria de voar numa vassoura e dançar com outras bruxas pagãs no bosque à luz do luar, invocando as forças da Terra e afugentando demónios, quero converter-me numa velha sábia, aprender antigos encantamentos e segredos de curandeiros. Não é pouco o que eu pretendo. As feiticeiras, tal como os santos, são estrelas solitárias que brilham com luz própria, não dependem de nada nem de ninguém, por isso carecem de medo e de lançar-se cegas no abismo com a certeza de que em vez de se destruírem sairão a voar. Podem converter-se em pássaros para ver o mundo de cima ou vermes para vê-lo por dentro, podem habitar noutras dimensões e viajar para outras galáxias, são navegantes num oceano infinito de consciência e conhecimento."
Isabel Allende
"Paula"

quarta-feira, 17 de novembro de 2004

Recordação

A noite desperta ao som da Lua.
Sempre que me vejo sózinha de noite, recordo os momentos de solidão que passava, por vezes apenas com uma vela a iluminar-me, como que a criar um submundo, que me protegia da realidade. A madrugada acariciava-me, e podia tornar-me no que quisesse, ser e dizer sem censuras, sem atropelos e interrupções...
Na verdade o que me aconteceu foi a incrivel descoberta do silêncio, que só a noite me trazia. E nele inventava sons e gritos, nunca ditos. A minha liberdade.
A recordação do que fomos, pode trazer-nos lágrimas que nos transportam para aquele momento, aquela hora, aquele cheiro, aquele toque...é mágico!
É bom nunca esquecer o que vivemos, o bom e o mau, e com isso olharmos o presente com confiança, tranquilidade, segurança em nós próprios; visto poder dizer que finalmente encontrei o que tanto quiz alcançar no passado... o Amor.

sábado, 13 de novembro de 2004

Um som que inspira

Penso que será esta a minha primeira espontânea aparição, visto o meu marido ter, até à data, me surpreendido com os meus próprios textos, na minha própria página. Um querido...
Apesar de ainda estarmos longe, já existem músicas que sentindo nos cheiram a Natal. Não a habitual realidade do que se vive no Natal, mas a ideologia da coisa. Aquele sorriso que abrange toda uma sala, compartilhada com quem mais amamos. O friozinho que arrepia o mais pequeno gesto, o carinho de quem nos presenteia todo o ano com o seu carinho, mas tão especial naquela noite, o presente que nos encendeia de comoção.
O olhar comovido de quem ao fundo da sala nos espreita e que sem uma palavra, nos agradece tudo o que somos na sua vida.
Esta lareira de emoções envolvem o "meu" Natal.
É esta ideologia do Natal que gostaria de passar à Catarina.
Acompanhamento: Diana Krall

Visão Nocturna

Através de uma janela que parece querer não se fechar, vejo paisagens que me amedrontam, pela sua tonalidade seca. Entra uma brisa tão fria que me humedece o olhar, lágrimas que sem controlo acabam por cair, perdidas.
O frio faz com que não sinta as mãos a tocar o meu próprio rosto, como não sendo parte de mim, mas tento que encontrem conforto ao meu sopro, que enregela ao toque da língua nos meus lábios.
Lábios que a cada sopro tentam desviar a atenção de seres nocturnos mais atentos aos perdidos da noite.
A falta de sensibilidade ao meu toque, faz-me perder a visão, que mesmo nocturna, sei que fareja a beleza da Lua, essa sim, única que me conforta num piscar de olhos, ditos em segredo só para mim.
A música embala-me o sono que tarde em vir, o fechar de olhos pode devorar a solidão, que se alimenta de medos e incertezas, é cega no seu propósito de fazer infeliz quem acredita que o amanhã será o dia de hoje, e depois o dia de ontem...
É necessário fingir que vemos aquilo que poderia ser um amanhã de esperança, de um querer começar tudo de novo, é no recomeçar que nasce a felicidade, nasce a vontade de devorar a vida com um grito de liberdade, essa que tantos anseiam, a liberdade de voar mesmo sem asas, ao som do nosso acordar.
Sinto gotas que começam a cair de um céu que parece sempre me ter pertencido.
Aquele é o momento, o gelar da tristeza, a doçura do derramar de lágrimas celestes, a junção de extremos que se completam e formam uma negra perfeição.
Algo me dizia que por entre a tempestade que se formava, e o luar que me enfeitiçava; a força da natureza poderia transpor tudo o que de melhor se escondia em mim, num incrível arco-íris de emoções, ao me mostrar o que à tanto, tanto tempo sabia, mas que o ar nublado que saía de mim num bafo de dor, ocultava na escuridão; o desejo do querer viver do ser que criei, num amor maior que este céu, ao esquecer este maravilhoso dia de Verão.

17/Jun/2004

Catarina Posted by Hello

sábado, 6 de novembro de 2004

Minha FILHA

Sem querer parecer lamechas, vou começando a descobrir o que é ser Mãe.
Na verdade, a princípio eram mais os receios, e as intermináveis questões.
Receio de não estar preparada como pensava antes de engravidar.
Receio de não responder ao que se exige de uma mãe, porque na realidade, assim que se é mãe, é evidenciada a apetência imediata para o “cargo”, sem se lhe ser perguntado nada, e sem dar hipótese de questionar nada. Daí talvez o medo de falhar, toda a expectativa não criada na figura do pai, passa imediatamente para a mãe.
É inquestionável a ligação profunda, e muito mais do que se percebe à partida, entre o bebé e a mãe. Mas porque não deixá-la fraquejar um pouco...tem de ser forte, mostrar confiança, tem de permanecer inabalável a qualquer tipo de pressão, engolir aquela lágrima que teima em sair numa qualquer falha.
Tudo isto em volta de um olhar tão puro, tão limpo, franco e claro, não exigindo tudo o que o mundo nos pede. Ao contrário, quer a simplicidade de um abraço, de um olhar carinhoso, despreocupado, sem medo, somente a atenção. E aquela mão bem forte em redor do seu corpo aparentemente frágil.
Por entre receios, aparecem então algumas das questões, que antes pareciam infundadas e sem sentido algum. A realidade surpreende-nos por entre cada respirar nosso, o próprio ar que pensamos nos rodear, num segundo consegue desmoronar e apagar a sua força, desaparecendo num sopro de emoção, causado pela simples notícia de que a criança nasceu perfeita...A espera do primeiro choro, depois do esforço, uma espera que parece não acabar, e o ar sim, acaba-nos e somente nos possui depois do esperado...A primeira preocupação, ainda mal se reconhece já existe uma possibilidade e um receio de algo correr mal, o chão esvai-se ardendo a cada suspiro, a Lua despe-nos, o Sol petrifica-nos, ficamos sem ver e sem ser, até à manhã seguinte que nos dizem o que queremos ouvir...
E nesta realidade começam então a nascer as questões que no fundo nos estão a levar, sem na altura percebermos, para a construção de um caminho novo, que começou na certeza da gravidez até ao confronto deste novo ser na vida do casal.
Será que não se perderá o especial que envolve cada casal, como aquele pequeno mas maravilhoso momento de amor de uma tarde perto do sol?
Será que o olhar que se voltava apenas para mim, conseguirá ser o mesmo depois daquele ser incrível nos derrubar com o seu esplendor?
Depois do desforme, de alguma fraqueza, da simplicidade de um olhar meu pertencer agora às duas; depois de toda esta alteração em mim, ainda conseguirá surgir aquele mesmo pequeno momento que parece nos unir em um, de corpo e sangue?
O ser humano é regido em grande parte por egoísmo, receio de perda, atenções absolutas. Algo que apareça que nos abale a bem ou a mal, acciona imediatamente as nossas fraquezas.
Mas o caminho para a força e a confiança em nós próprios, é exactamente, por entre a caminhada que criamos, passarmos por algumas tempestades, de areia, de vento, de mar, a sonhar. Só percorridos estes embustes é que olhamos para nós e nos vemos finalmente com a confiança renovada, voltamos então a encontrar aquele olhar que nos parecia perdido, o som da nossa própria voz a ecoar por dentro a certeza da felicidade.
Passados alguns medos, que logicamente nos vão acompanhar, tudo parece ter sido irreal: como pude ter receio de perder o momento, como pude ter medo de não mais sentir queimar a sua boca no meu corpo, como pude perder tempo com todas estas questões se já antes vivia as mesmas certezas que tenho hoje.
O Amor só pode ter fortalecido, o sonho que nos une só pode renovar-se a cada beijo, e a nossa vida passou de um pequeno mas maravilhoso momento, para todos os momentos de todos os dias, por entre a perfeição que criámos. A filha.

17/Jun/2004