Através de uma janela que parece querer não se fechar, vejo paisagens que me amedrontam, pela sua tonalidade seca. Entra uma brisa tão fria que me humedece o olhar, lágrimas que sem controlo acabam por cair, perdidas.
O frio faz com que não sinta as mãos a tocar o meu próprio rosto, como não sendo parte de mim, mas tento que encontrem conforto ao meu sopro, que enregela ao toque da língua nos meus lábios.
Lábios que a cada sopro tentam desviar a atenção de seres nocturnos mais atentos aos perdidos da noite.
A falta de sensibilidade ao meu toque, faz-me perder a visão, que mesmo nocturna, sei que fareja a beleza da Lua, essa sim, única que me conforta num piscar de olhos, ditos em segredo só para mim.
A música embala-me o sono que tarde em vir, o fechar de olhos pode devorar a solidão, que se alimenta de medos e incertezas, é cega no seu propósito de fazer infeliz quem acredita que o amanhã será o dia de hoje, e depois o dia de ontem...
É necessário fingir que vemos aquilo que poderia ser um amanhã de esperança, de um querer começar tudo de novo, é no recomeçar que nasce a felicidade, nasce a vontade de devorar a vida com um grito de liberdade, essa que tantos anseiam, a liberdade de voar mesmo sem asas, ao som do nosso acordar.
Sinto gotas que começam a cair de um céu que parece sempre me ter pertencido.
Aquele é o momento, o gelar da tristeza, a doçura do derramar de lágrimas celestes, a junção de extremos que se completam e formam uma negra perfeição.
Algo me dizia que por entre a tempestade que se formava, e o luar que me enfeitiçava; a força da natureza poderia transpor tudo o que de melhor se escondia em mim, num incrível arco-íris de emoções, ao me mostrar o que à tanto, tanto tempo sabia, mas que o ar nublado que saía de mim num bafo de dor, ocultava na escuridão; o desejo do querer viver do ser que criei, num amor maior que este céu, ao esquecer este maravilhoso dia de Verão.
17/Jun/2004
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