sábado, 13 de novembro de 2004

Visão Nocturna

Através de uma janela que parece querer não se fechar, vejo paisagens que me amedrontam, pela sua tonalidade seca. Entra uma brisa tão fria que me humedece o olhar, lágrimas que sem controlo acabam por cair, perdidas.
O frio faz com que não sinta as mãos a tocar o meu próprio rosto, como não sendo parte de mim, mas tento que encontrem conforto ao meu sopro, que enregela ao toque da língua nos meus lábios.
Lábios que a cada sopro tentam desviar a atenção de seres nocturnos mais atentos aos perdidos da noite.
A falta de sensibilidade ao meu toque, faz-me perder a visão, que mesmo nocturna, sei que fareja a beleza da Lua, essa sim, única que me conforta num piscar de olhos, ditos em segredo só para mim.
A música embala-me o sono que tarde em vir, o fechar de olhos pode devorar a solidão, que se alimenta de medos e incertezas, é cega no seu propósito de fazer infeliz quem acredita que o amanhã será o dia de hoje, e depois o dia de ontem...
É necessário fingir que vemos aquilo que poderia ser um amanhã de esperança, de um querer começar tudo de novo, é no recomeçar que nasce a felicidade, nasce a vontade de devorar a vida com um grito de liberdade, essa que tantos anseiam, a liberdade de voar mesmo sem asas, ao som do nosso acordar.
Sinto gotas que começam a cair de um céu que parece sempre me ter pertencido.
Aquele é o momento, o gelar da tristeza, a doçura do derramar de lágrimas celestes, a junção de extremos que se completam e formam uma negra perfeição.
Algo me dizia que por entre a tempestade que se formava, e o luar que me enfeitiçava; a força da natureza poderia transpor tudo o que de melhor se escondia em mim, num incrível arco-íris de emoções, ao me mostrar o que à tanto, tanto tempo sabia, mas que o ar nublado que saía de mim num bafo de dor, ocultava na escuridão; o desejo do querer viver do ser que criei, num amor maior que este céu, ao esquecer este maravilhoso dia de Verão.

17/Jun/2004

Sem comentários: